quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A VERDADEIRA IGREJA, EM MARCELO QUINTELA, ESCREVE SUAS REFLEXÕES.

 

Paciência? Não! É preciso muito mais!

Fim da Missão nas cidades do litoral do sudeste nigeriano. Dividimos a expedição agora. Equipe Beta fica no Orfanato para concluir as reformas. Equipe Alfa vai subir para Dakar agora, capital do Senegal. Só que não! Not yet! Tem um “diabo” impedindo nossa saída daqui. Nigéria: difícil para entrar, mais difícil ainda para sair.

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Aeroporto. Voo atrasado. Era de manhã cedinho e foi transferido para o fim da tarde. Brigamos. Desse jeito a gente perde o voo para Senegal a partir de Lagos. Sim, perdemos mesmo. E o dia também. E daí que ninguém quer se responsabilizar por isso. A desculpa está pronta: O presidente resolveu voar hoje, e o espaço aereo foi fechado por causa das ameaças terroristas. O Boko Haram virou a desculpa para tudo por aqui. Nosso motorista chega atrasado? Foi o Boko Haram. Não tem hospital? Boko Haram. Por que os preços das coisas sobem? Por causa do Boko Haram. Aí um homem explode um mercado despedaçando mais de 80 pessoas aqui, e quando finalmente parece ter sido culpa do Boko Haram… não foi! Foi pior: tem outros grupos, gente invisível. Analistas aqui dizem que ano que vem a Nigéria vai virar um inferno. Meus amigos aqui brincam: Como assim “vai virar”?

Mas estamos no aeroporto. Tem só duas empresas aéreas, são a nossa e a “Dana Air”, que estava proibida de operar depois que um de seus aviões caiu e o outro estava em manutenção. Não há opções. Não há direitos do consumidor. Ainda temos que ouvir: “O máximo que podemos fazer é transferir a passagem de vocês para amanhã e não cobrar taxa adicional”. Hã? Quase batemos no cidadão!

Mas o dia perdido foi ganho. Foi o Espírito que nos impediu de ir, para resgatar duas crianças, a pedido de uma jornalista local que acompanha os garotinhos, e os vê apanhando toda noite de adultos que os roubam pelas madrugadas nas ruas. Um deles tem uma hérnia inguinal imensa. Nós tínhamos a foto dele, e o identificamos pela hérnia que, aliás, é tão grande que não dá pra ver nem seu pintinho nem saquinho, nem nada. Já estão no orfanato de cabelo cortado, banho tomado, roupa nova e conhecendo os amiguinhos. Agora precisamos de grana para operá-lo!

E então lá fomos nós para Lagos, enquanto o outro avião chegava em Dakar sem a gente. Chegamos em Lagos. Nós e o Ebola. A primeira vítima morreu hoje. Fomos para nossa Base na grande cidade para passar a noite e procurar embarcar no dia seguinte. E então, vamos assistir TV pela primeira vez. Aí que vimos que o mundo está pior do que nossos incidentes locais. Puxa, bastou a gente se retirar um pouco e um míssil derruba um Malasyan Air em pleno céu da Europa. E aqui do lado, um outro avião que seguia para Argélia, caiu em Mali, após enfrentar “fortes chuvas”. Nossa, mas nada pior do que assistir Israel desabando sobre Gaza e seus escudos humanos feito de carne de crianças!

Amanheceu o dia em Lagos que deveria ser no Senegal. Fomos para o aeroporto. E desapareceram com nosso voo de novo! Para ir para Dakar só a noite… de novo! “Então, imprimam nossas passagens!!!” “Não podemos imprimi-las tão cedo!” Quem nos garante que vamos embarcar à noite, então? Já perdemos dois dias e temos que inaugurar com políticos locais nosso orfanato em Dakar. Vocês estão comprometendo toda uma apertada agenda! Eles ficaram surpresos e foram checar nossos nomes no computador. Estávamos lá! “Imprime!” Ele não tem conexão do computador com a impressora (???). Então, temos que nos contentar com uma foto da tela do monitor feita em nosso celular.

Voltamos para a Base de novo. E é onde estamos agora. Esgotados, exauridos de fazer o que é contra nossa natureza, brigando em todo lugar… Dormimos, acordamos, vamos comer, meditar, aquietar, e logo mais embarcar, talvez… Se no Brasil, só Deus sabe; aqui… Nem Deus! Mas em nosso coração a certeza de que, sim, Ele sabe todas as coisas…

Ter paciência virou requisito mínimo. Não pode ser refém do estômago nem do sono: Tem que ter tranquilidade para dormir em qualquer lugar, de qualquer jeito, comendo a qualquer hora e quando dá. Um de nós está doente. E tem vindo da melhor forma que pode, com toda garra.

Paciência não é nada. Tem que ter certa insanidade na qual se esconde a lucidez de amar! Tem que amar! Sem amor fica tudo sem sentido. Isso aqui não faz sentido. E nós não sentimos mais nada. Há dor que desatina sem dor! E tem em todos uma alegria interior, expressa em capacidade de não se autovitimar e fazer graça das próprias desgracinhas, enquanto o caos segue em frente com toda a calma do mundo!

Dakar nos espera…

 Marcelo Quintela

 

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